quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

FULERAGEM MUSIC, NAO E FORRO





Mulher fuleira, uma imagem feminina no forró contemporâneo 70 Durante o primeiro semestre de 2012 dediquei-me ao estudo e análise da produção midiática de duas bandas de forró eletrônico que fazem parte da cena cultural e musical do Estado do Piauí nos dias de hoje “Aviões do Forró” e “Calcinha Preta”, bem como do imaginário dualístico de gênero composto por homens e mulheres que sempre estão presentes nos shows destas bandas que acontecem no interior e em nossa Capital, Teresina. Este processo foi possível a partir observação da oferta de produtos midiáticos por meio de CDs, DVDs e projeção dos shows em bares, restaurantes, boates, pubs, e nos mais diversos espaços culturais, que possibilitou a investigação da produção de sentidos relacionados ao corpo feminino, que gerou a seguinte indagação: Que imagem do corpo feminino é pretendida na produção midiática do forró eletrônico como elemento de consumo cultural? Ao estudar as coreografias, figurinos, perfil corporal, movimentos dançantes e os discursos das letras, de shows gravados em DVDs das duas bandas de forró concluiu-se que esta oferta midiática constrói e oferta sentidos sobre o corpo feminino e que os sentidos identificados na observação foram de romance, eróticos e sensuais, reafirmando-se, historicamente, o papel da mulher como objeto de desejo sexual definida para e pelo homem. Quanto ao objeto de análise qualitativa temos as bandas de forró contemporâneo (eletrônico), geralmente formadas no Nordeste do Brasil.
As Bandas “Calcinha preta” e “Aviões do forró” fazem parte do pequeno grupo de bandas regionais que ganharam grande repercussão no cenário midiático nacional. As duas possuem músicas que compõem trilhas sonoras de várias telenovelas da maior rede de televisão do país, “Rede Globo”. Por este e outros fatores, vêem suas músicas tocadas em todas as grandes rádios populares do Brasil, que acaba ganhando espaço no gosto da população de todo o país.Numa perspectiva de mercado, cultural e de gênero a mulher surge como um atrativo das “bandas de forró”. As músicas falam sobre mulheres, descrevem corpos e condutas para a existência feminina, constroem representações que são aceitas e utilizadas em suas práticas sociais, vêm nelas também uma “representação de seu cotidiano” o que aumenta ainda mais sua identificação com as músicas. Desta forma, o forró eletrônico, recheado por dançarinas exuberantes e sensuais contribui consideravelmente na consolidação de uma “cultura nordestina” que tem bases no consumo ligado aos prazeres do corpo, intimamente relacionados à figura da “mulher fuleira”.   Um dos autores mais renomados nestes estudos que fundamentou consideravelmente nossa pesquisa, Felipe Trotta afirma que “…a temática majoritária das músicas da banda incorpora uma certa continuidade entre a festa e a relação amorosa e sexual, descrevendo estratégias de conquistas, narrando belezas femininas, comentando ações e situações do casal…. com coreografias sugestivas e erotizadas. Portanto, a temática amorosa-sexual.” Como piauiense, entrincheirado pela paleta de ofertas midiáticas oferecidas como cultura regional a ser consumida, ouvimos e vemos cotidianamente o conteúdo do forró eletrônico no trabalho, em casa e quando a diversão envolve “festa”, percebendo, desta forma, que o conteúdo fonográfico deste estilo musical, majoritariamente, traz textos que falam sobre mulheres, e as “pintam” com o pincel do machismo mais patriarcal, dando ênfase a corpos sensuais que levam a um desejo sexual iminente, analogamente a períodos anteriores, mas de forma mais pejorativa e agressiva, pois o duplo sentido é carregado de um conteúdo explicitamente sexual. No tocante às letras musicais, é perceptível que o enfoque é extremamente pejorativo, onde o sexo é tratado de forma banal, depreciativo, no tocante às mulheres, e satírico e patriarcal, para os homens. A dança que é apresentada no acompanhamento das músicas é recheada por um aspecto de espetacularização do corpo da mulher, mostrando-o por todos os “ângulos”, desencadeando, desta forma, sentidos de sexualidade e desejo de posse, onde o corpo feminino é um objeto de satisfação sexual para os homens. Neste contexto chamamos a atenção para a música da banda Aviões do Forró – Mulher Fuleira (Fuleira significa no linguajar cotidiano nordestino sem valor; ordinária, reles). A tônica do forró estilizado, na atualidade, é banalizar as variadas formas de discriminações, preconceitos e violência contra as mulheres tão presente em nossa sociedade, nele as mulheres são tratadas como objeto de prazer ou de violação. Por meio da linguagem são utilizados com freqüência termos como vagabunda, pistoleira, fuleira, safada e puta. A exemplo do refrão da música Mulher Fuleira: Ela é fuleira, fuleira, fuleira. Ela é fuleira, fuleira, fuleira. Ela é fuleira, fuleira, fuleira. Ela é fuleira, fuleira, fuleira. Na bagaceira… Como se percebe são expressões que reforçam a força cultural do patriarcado.  
Enfim, acreditamos que o “corpo” é uma construção social e cultural, cuja representação circula no grupo, investida duma multiplicidade de sentidos. Esses sentidos por vezes reafirmam, por outras se ampliam ou remodelam e por, outras ainda, enxugam ou, mesmo, desaparecem. Mas de qualquer forma, as representações se formam de acordo com o desenvolvimento humano num dado contexto sócio- histórico. Assim, o título de nosso texto justifica-se e alude a idéia da mulher como uma representação do papel de objeto sexual, onde o corpo feminino idealiza a inquietude, a saciedade, o desejo, o sexo e a uma ideia explicar de fuleiragem, onde o protagonismo semiótico é o da “mulher fuleira”. Por Fábio Soares da Costa

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